Com coleção inspirada em rios da Amazônia, artista do AP conquista segundo lugar em desafio nacional
09/12/2024
(Foto: Reprodução) Fernanda Bastos, de 28 anos, conquistou reconhecimento nacional em São Paulo. Ela apresentou uma coleção inspirada em suas viagens de barco e experiências pelos rios da Amazônia. Fernanda Bastos foi premiada em desafio nacional com moda inspirada na Amazônia
Marcelo Soubhia/Agfotosite
A artista amapaense Fernanda Bastos, de 28 anos, criadora da marca 'Selvática', foi destaque em um desafio nacional de moda em São Paulo. Ela conquistou o 2º lugar com uma coleção totalmente inspirada em suas viagens de barco pelos rios da Amazônia.
Fernanda é estudante de design de moda em Belém (PA). Com a família e amigos residindo no Amapá, a artista constantemente passeia nas águas da bacia hidrográfica amazônica, o que despertou a ideia do primeiro vestido mandado para a inscrição, e em seguida a coleção que a levou para a conquista.
"O meu look da inscrição foi um vestido todo texturizado, eu não encontrei as coisas que eu queria retratar no centro para comprar, não encontrei o tecido e uma alternativa que a gente encontrou foi bordar com barbante, então ele é um vestido inteiramente bordado. Que tem a cor do rio, que é aquela cor mais barrenta, com retalhos de malharia e resíduos de brim para fazer as texturas das matas", disse ao g1.
Em seguida, a estudante montou uma coleção com toda sua trajetória de barco até Belém. Ela explicou que a montagem foi a parte mais desafiadora por exigir muita técnica experimental.
"É o mapa por onde o barco passa para me levar para Belém. Essa coleção é uma grande viagem de barco [...] Eu fico subindo e descendo esse rio porque eu gosto muito de estar na minha cidade e aqui que eu tenho o meu ateliê", contou a artista.
Roupas produzidas pela artista são inspiradas na Amazônia
Marcelo Soubhia/Agfotosite
Desafios dentro e fora da moda
Pela exigência de diferentes técnicas e por querer retratar tudo o que via em uma viagem de barco, Fernanda recebeu ajuda da professora, amigos e família, o que para ela torna a coleção ainda mais significativa.
"Tem dedinho de toda a minha família nessa coleção. A minha mãe fez o crochê das redinhas que aparecem, que são as redes dos barcos. Minha professora de Belém me ajudou com as modelagens das calças maravilhosas e com as modelagens de maioria das peças", explicou.
Mas antes de alcançar a grande conquista na carreira, Fernanda pensou em desistir de tudo após receber a notícia da morte da irmã às vésperas do concurso.
"Eu não tinha mais ânimo de participar. Eu perdi uma irmã e isso não tem dimensão. Mas mesmo assim, toda minha família, como sempre, minha família, minha namorada, todo mundo me apoiou, me empurrou, para que eles também pudessem viver esse sonho junto comigo", contou.
A artista, mesmo completamente abalada emocionalmente decidiu seguir com o sonho após o incentivo das pessoas próximas.
"Esse sonho não é só meu, esse sonho é meu de todo mundo que me acompanha há muitos e muitos anos", completou.
Família da artista é conectada pelo sonho de alcançar grandes espaços com a costura
Fernanda Bastos/Arquivo
Retrato dos rios da Amazônia: 'Moda é política'
Além da beleza das águas, a artista decidiu explorar também as consequências causadas na Amazônia pela mudança climática.
"Esses rios começaram a sofrer essas grandes mudanças climáticas e isso acabou atravessando também a minha coleção. Eu fui percebendo durante as viagens que estava mudando de cor, estava ficando esverdeado. Tem lugares do interior onde o rio está secando e as viagens de barco ficam mais prejudicadas, tem comunidades que não têm acesso à água potável", contou Fernanda.
Esta é outra mensagem que Fernanda busca passar através da arte. A preservação da vida da fauna e flora do local onde vive. Em determinadas peças, a artista retrata leitos secos e pedaços de terra.
"É o momento certo de falar sobre isso também porque o Norte vai continuar existindo depois da COP, então ter soluções a longo prazo [...] A moda também é política e ela pode falar sobre isso também. Esses buracos são realmente essa ausência que não tem como ser preenchida sem ser com água Então é uma arte que tem diversas formas de ser entendida e interpretada, mas é principalmente sobre a valorização dos rios", contextualizou.
Representatividade Tucujú
A artista que tem uma família de artesãos e começou ainda na escola, com a venda de broches e bordados, conseguiu conquistar espaços cada vez maiores com a sua moda sustentável autoral. Fernanda conseguiu consolidar a sua marca 'Selvática' e a partir disso as oportunidades cresceram ainda mais.
''Selvática' consolidou Fernanda no mercado da moda nortista
Fernanda Bastos/Arquivo
O concurso abriu vagas para dois representantes de casa região, e a artista foi a selecionada do Amapá. Ela enxergou nisso, a oportunidade de deixar o norte em evidência, destacando as maiores riquezas.
"Eu amo a minha cultura, amo falar sobre a minha cultura. [...] Eu sinto falta de casa quando eu estou longe, é o que realmente gosto. Eu faço moda de rua e eu gosto de falar que eu faço moda de rua nortista".
Além da representatividade nas mensagens repassadas através das produções, Fernanda disse também levar a realidade nortista das vestimentas, sem exageros de tecidos ou roupas inapropriadas para o calor predominante.
"Aqui tudo é quente, aqui a gente fala sobre calor, então eu não vou fazer roupas casacos cheios de manga, quem que vai usar isso? Minhas peças têm a barriga, à mostra sim, porque aqui é quente. Se eu puder usar partes do corpo a amostra, eu vou usar para me refrescar melhor, então todas as peças têm um pouco de como eu sou".
Com a oportunidade de levar a cultura nortista ao resto do Brasil, a artesã contou ao g1 que ainda estava 'sem acreditar' nesta conquista tão importante.
"Eu tô muito feliz por ter conseguido falar sobre isso e ter sido premiada. Então parece que a ficha ainda não caiu, ainda estou vivendo esse sonho. tem muita gente maravilhosa que faz um trabalho incrível, só que o resto do Brasil não conhece, porque nunca procurou conhecer. É isso que falta, procurar, conhecer e valorizar a arte que tem em todos os cantos do Brasil", finalizou.
Fernanda Bastos e o prêmio de segundo lugar no concurso nacional
Arquivo Pessoal/Fernanda Bastos
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